Carta aberta ao presidente da CGD

Paulo Macedo. Photo Mário Cruz/Lusa.
Carta aberta dos Órgãos Representativos dos Trabalhadores da Sucursal da Caixa Geral de Depósitos em França
Ao Presidente da Comissão Executiva da CGD Dr. Paulo Macedo.

Paris, 23 de maio de 2017

Exmo. Senhor,

Decidiram os Órgãos Representativos dos Trabalhadores desta Sucursal dirigir-se a V. Exa., para expor o que se segue:

1. Na sexta-feira dia 10 de março aquando da apresentação das contas 2016 da nossa instituição em conferência de imprensa em Lisboa, jornalistas portugueses (como Diogo Cavaleiro do Jornal de Negócios) ou estrangeiros (como o correspondente da agência noticiosa Reuters) noticiaram que V. Exa informou que a Sucursal de França da CGD era para alienar, embora a prioridade fosse a alienação das Sucursais de Espanha e África do Sul que se deveria concretizar até ao final do ano.

2. Quatro dias depois (14 de Março), a Direcção Geral da Sucursal reunia as chefias na sua sede em Paris, para comunicar que a informação relatada pela imprensa e pelos diários estrangeiros – entre os quais um dos diários de informação económico-financeira de referência em França – Les Echos- não era verídica, afirmando ter obtido a segurança por parte de V. Exa e do administrador com a pasta da Sucursal de França, Dr José João Guilherme, que nada estava decidido em relação a esta Sucursal.

3. Na reunião extraordinária do dia 16 de Março, solicitada pela Comissão de Trabalhadores, a Direcção Geral da Sucursal continuou a não confirmar a notícia - que todavia foi divulgada com base na conferência de imprensa de V. Exa - de que a CGD França iria ser alienada, sendo referido que tal dependia da rentabilidade que esta Sucursal viesse a atingir.

4. Na sexta-feira dia 5 de Maio o vídeo da intervenção do deputado social democrata, Luís Campos Ferreira, na CMTV – afirmando que a CGD França iria ser alienada - circulou em toda a Sucursal e na respectiva rede, tendo, os Órgãos Representativos dos Trabalhadores, sido inundados de telefonemas emanando do pessoal, preocupado com as informações que pela segunda vez vinham a público e as reacções da clientela que, como V. Exa facilmente compreenderá, mantem um contacto estreito, quase-quotidiano com Portugal e os mídia do nosso País.

5. No mesmo dia, duas comunicações são enviadas pela Direcção Geral ao pessoal, dizendo, em substância, que não estava actualmente em curso um processo de alienação da Sucursal França.

Compreenderá V. Exa, face ao exposto, a má imagem que a CGD está a enviar aos clientes e ao conjunto da comunidade portuguesa para quem a Sucursal, mais do que um banco, é uma representação do Estado português em França. Compreenderá igualmente V. Exa., o mal-estar que se está a instalar no seio dos mais de 500 trabalhadores da Sucursal, condenados a desmentidos internos de informações que a comunicação social veicula, e que não mereceram por parte da CGD Portugal qualquer retificação ou desmentido públicos. O mal-estar é tanto maior, quanto, após uma intensa greve levada a cabo no mês de maio do ano passado pela maioria do pessoal, o clima social da Sucursal continua a degradar-se com a saúde física e mental dos trabalhadores a deteriorar- se, face a procedimentos manageriais impróprios de uma empresa, a fortiori pública, ao mesmo tempo que se assiste a um turn-over nunca dantes visto ao longo dos mais de 40 anos de vida da Sucursal e nocivo ao nível da sua gestão e imagem.

Face ao exposto e, sabendo que o Plano de reestruturação da CGD foi acordado com a DGcomp há largos meses e que dele devem constar as alienações (vendas de activos) previstas, encerramentos de agências e/ou supressões de serviços, vimos, por este meio, na nossa qualidade de órgãos eleitos pelos trabalhadores da Sucursal, solicitar a V. Exa. que nos responda claramente às seguintes questões:

1. no âmbito do Plano de reestruturação da CGD prevê-se a tomada de qualquer medida no que diz respeito à Sucursal França?

2. prevê a administração a alienação total da Sucursal ou a redução de actividade desta, designadamente através da alienação de balcões, carteira de clientes, encerramento de balcões ou supressão de atividades?

3. em matéria de trabalhadores, está prevista a redução de trabalhadores? E sob que modalidades?

Os Órgãos Representativos dos Trabalhadores da CGD-França  solicitam a clarificação rápida e formal  por parte de V. Exa., das disposições previstas para a Sucursal de França da CGD: tal clarificação - já tardia, tendo em conta as notícias que têm vindo a ser divulgadas pelos mídia, e nunca desmentidas por V. Exa. - constitui o mínimo de respeito que devem merecer por parte de um banco público, os mais de 500 trabalhadores que nele exercem esforçadamente a sua atividade e a população emigrante que estes mesmos trabalhadores se têm esforçado por servir com dedicação e empenho ao longo dos anos.

Mais, informamos V. Exa. que os Órgãos Representativos dos Trabalhadores desta Sucursal defenderão intransigentemente os seus postos de trabalho, bem como a manutenção da CGD-França na esfera pública e a continuidade da prestação do serviço público da banca na maior comunidade portuguesa da Europa e das maiores comunidades portuguesas do mundo, avaliada em cerca de 1.5 milhões de pessoas.

Não podemos, com efeito, admitir que a Banca pública conserve sucursais em paraísos fiscais como as Ilhas Caimão ou Macau e queira privatizar a Sucursal do país emblemático da emigração portuguesa na Europa, a saber a França, país para o qual se tem dirigido, além do mais, nos últimos anos, um contingente anual de milhares de emigrantes, que constituem segundo os últimos dados conhecidos, o primeiro contingente de novos emigrantes em França.

Na expectativa de resposta clara e formal sobre o futuro da Sucursal de França da CGD, para bem da imagem da nossa instituição e do respeito pelos seus trabalhadores e a comunidade portuguesa em França, apresentamos a V. Exa., os nossos melhores cumprimentos.